por ocasião dos 26 anos da Academia de Letras dos Campos Gerais
O alto ideal que culminaria com a fundação da Academia de Letras dos Campos Gerais agitou-se e fecundou o germe ao anoitecer do vigésimo século. Menos de dois anos depois do 20 de março de 1999, a nobre instituição, já concretizada e ativa, lançava-se inteira e promissora nos braços do terceiro milênio. Era, portanto, uma voz que se destacava do coro e se projetava num desconhecido repleno de inauditas sonoridades. Era o grêmio que nascia consagrado pelo sinal do futuro, e pertinaz no culto da palavra sadia enquanto veículo do pensamento e da criação.
A intelectualidade local, arrebatada pelo esplendor destes campos e destas colinas, havia já algum tempo inquietava os ares repousados do Planalto sob o influxo do frêmito universitário. Aqui desde décadas se capacitavam cidadãos sobre os pilares do conhecimento. Aqui se sonhava poesia, se narravam histórias, se documentavam aspectos quotidianos, se vasculhava o ado. Aqui se fazia música, teatro, artes plásticas, jornalismo. Pois que aqui se delineavam também, humanamente, como por toda parte, acima dos alicerces do contexto real, as disposições demiúrgicas para o despertar de novas realidades.
Mas a Academia, que agora se apresenta livre e inspiradora a todo o corpo social, trouxe consigo uma vitalidade insólita, um alento singular e uma riqueza especial de que ainda não dispúnhamos.
O notável erudito princesino Faris Antônio Salomão Michaele costumava falar visionariamente sobre a possível concretização de um espaço físico que congregasse num círculo sublime as mais elevadas vibrações do espírito: desenhava-se na sua mente o Solar da Cultura, expressão cunhada com propriedade pelo mestre exemplar.
Não se poderia talvez pressupor o movimento acadêmico, polo confluente e difusor de múltiplos saberes, como uma forma alternativa e imaterial de experimentar a força e a subsequente repercussão dessa gloriosa fantasia?
Hoje a nossa poesia, mais que nunca, delira em luz e magia, avivando assombros e emoções. A crônica, a voz do dia a dia, espalha pelos quatro cantos o seu poder de observação ou de crítica. A fábula e o ensaio se vêm revelando intensos e profusos. A pesquisa nos procura preencher os vácuos da História, da Música, das ciências e das artes em geral. E a Academia palpita e estremece de júbilo ao embalo de tantas conquistas predestinadas à imortalidade.
Assim completamos o nosso vigésimo sexto ano. Assim mantemos intacta a nossa intenção primeira. E assim, reconhecidos pela comunidade que nos abriga, nós que nela vivemos, nós que atuamos por ela, prosseguimos firmando em solidez os nossos os, na busca infatigável do novo, do inexplorado, do disperso, do mistério e do sonho.


Nota da secretaria: A Academia de Letras dos Campos Gerais integra o Observatório da Cultura Paranaense. O acadêmico Prof. Dr. Sérgio Monteiro Zan é membro fundador da Academia de Letras dos Campos Gerais, Cadeira 20, atual Vice-Presidente. Discurso proferido em 14 de março de 2025. Fotos de Edison Luiz Brabicoski.