Mal tinha feito três anos começou a Segunda Guerra Mundial. Vista de hoje essa essência do terror e do erro humano ainda não sei a que veio. Teve ganhadores? Teve mais perdedores, só mudou de vez o eixo da economia mundial para os Estados Unidos da América do Norte.
Para nossa querida cidade o que mudou? Muitas coisas, sumiu do comércio o açúcar e a gasolina, o trigo, foram racionados em cotas por família. A gasolina ficou só para autoridades locais, médicos e alguns serviços.
Viajar, só de trens. Lembrando experiências era um tormento, cheiro de fumaça da locomotiva entrando pela janela, no trajeto para Curitiba tinha tantas curvas que o enjoo atingia muitas pessoas.
Após a declaração de guerra contra os países do Eixo, durante um tempo, todas as casas e estabelecimentos tinham que ficar no escuro. Embora nem um avião inimigo tenha feito algum ataque no país. Os perigos foram s ao litoral.
Tudo isso gerou alguns desconfortos, a vida perdeu a graça ninguém podia ir de carro para onde a fantasia chamava. As crianças, desejando doces e não conseguindo pela restrição do açúcar foram as mais prejudicadas.
Os adultos, sonhando com pescarias, eios no campo, comuns nessa época, tão logo esse tempo ou e a normalidade retornou, tiraram a diferença.
Foi a era dos piqueniques, uma beleza!
Nossos eios de domingo foram em direção das atrações tão desejadas e conhecidas, pelo município.
A Vila Velha, só ível por um trecho ruim de caminho, era ainda uma experiência rústica. Péssimos caminhos, enfrentando pelo meio de macega alta que cortava trilhas que eram abertas ao caminhar, desafiavam as mulheres, e crianças a seguir os adultos sem reclamar.
Lagoa Dourada, onde enxames de butucas e pernilongos espantavam em dois minutos os enxeridos para locais mais atraentes.
Na chamada Estrada de Itaiacoca, que começava como continuação da rua Hinon Silva e continuava na depois chamada Carlos Cavalcanti, ando a fazenda da UEPG, tinha muitas atrações.
Mas algum tempo depois, lá por 1947, conseguimos licença para entrar numa das usinas da então Companhia Prada de Eletricidade. Primeiro, na usina de baixo, a principal, com sua casa de máquinas, o canal de condução d’água, a cachoeirinha em degraus para escoamento e um trecho do rio Pitangui, cheio de lambaris. Uma festa!
Mais tarde chegamos às outras duas usinas, até chegarmos a barragem principal: Alagados. O encantamento foi grande. Embora já tivéssemos conhecido o trecho ponta-grossense, na fazenda do senhor Genésio, amigo de meu pai, ficamos encantados com o lado que então pertencia a Castro.
Eram grandes aventuras esses convescotes. Todos participavam, os homens se encarregavam do churrasco, feito num buraco no chão de terra, as mulheres organizando o farnel de almoço e o um bolo para tarde. As crianças, jurando não incomodar.
Posso dizer que eram aventuras tão emocionantes e, ao mesmo tempo, cansativas. Mas, eram adoráveis. Terminaram, ou mudaram de rumo, quando meu pai adquiriu nossa chácara na beira do Alagados, nosso paraíso na terra. Tão boas lembranças, tanta simplicidade compartilhada entre várias famílias de amigos, um bom tempo.
Dra. Aída Mansani Lavalle é historiadora, pesquisadora e professora aposentada da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Possui vários livros publicados, sendo sua obra referência para quem pesquisa e estuda a história dos Campos Gerais. É ocupante da cadeira 36 da Academia de Letras dos Campos Gerais.