O antigo Hospital 26 de Outubro, em Ponta Grossa, foi inaugurado em 25 de janeiro de 1931, tornando-se uma referência na área hospitalar no Paraná e compondo o conjunto de edificações que a ferrovia formou na cidade. Funcionou até 1989, quando a ferrovia foi privatizada.
Foi adquirido pela prefeitura que ali, em setembro de 1990, instalou o Centro de Ação Social, sendo que atualmente se encontra quase totalmente desocupado. Recentemente formamos um grupo para realizar uma visita às dependências da edificação e avaliar suas condições.

O atual estado do ‘Hospital 26 de Outubro’
Poucas ações de manutenção foram percebidas. A fachada, alguns anos atrás, recebeu uma feia pintura azul que rapidamente desbotou. Até poucos anos atrás tudo estava em perfeito uso, agora está bastante deteriorado. Goteiras podem ser notadas principalmente no corpo frontal.
Ao mesmo tempo, notamos que os madeiramentos, pisos e esquadrias estão em boas condições, demonstrando que a madeira usada na construção é de ótima qualidade. Muita sujeira se acumula, com pombos habitando seu interior, entrando pela porta da sacada superior que permanece aberta.
Tombamento
O tombamento do 26 de Outubro pela Coordenadoria Estadual do Patrimônio Cultural, em 2004, reflete a sua valorização para a história da cidade e também para o turismo, e como uma contribuição para a construção da nossa identidade cultural.
Expectativa e desafios
A sociedade espera que esse patrimônio inestimável seja preservado, a salvo de intervenções ou alterações equivocadas na sua estrutura e garantindo um uso que preserve sua autenticidade e valor histórico cultural.
São dois os nossos desafios: conseguir preservar o imóvel do abandono e indiferença do poder público. E, principalmente, proteger esse patrimônio das intervenções fortuitas que contornam os critérios fundamentais que regem a restauração, visando permitir os usos indevidos.






No andar superior: deterioração. Participantes da visita guiada Capela São José: praticamente intacta
Depoimentos do grupo visitante:
Prof. Dr. Sérgio Monteiro Zan:
“Visitamos uma edificação quase centenária que está hoje sob o controle do município. Faz parte da história da cidade e merece o máximo respeito. O que se espera do poder público, se é que a cultura não lhe é estranha, será uma restauração completa do prédio, atendendo na medida do possível à sua feição original, e o seu aproveitamento consciente e efetivo, mas sempre como um monumento a ser preservado.”
Prof. Douglas oni de Oliveira:
“A visita às dependências do antigo Hospital 26 de Outubro foi, para mim, uma experiência especial e reveladora. A capela abriga um dos melhores harmônios que já encontrei em um espaço público da região. Infelizmente, o instrumento está cercado por materiais de descarte e encontra-se sem uso. Deixo aqui meu desejo de que ele volte a ser um elo entre a humanidade e o divino, cumprindo novamente sua função primeira.“
Isabel Regina Nascimento, escritora:
“Na capela, peças raras que deveriam ser preservadas, estão em risco, algumas já quebradas jazendo nos cantos. A tristeza é inevitável ao ver um lugar de tanta importância cultural e espiritual ser negligenciado. Hoje, o descaso só reforça a necessidade de ações urgentes para salvar a nossa memória coletiva, e que não é transformá-lo em um espaço comercial.“
Márcia Maria Dropa, professora e pesquisadora:
“Entrar no Antigo Hospital 26 de Outubro, caminhar por seus corredores, identificar antigos quartos, enfermarias, cozinha, se encantar com os espaços dos jardins e visitar a Capela São José, é uma viagem ao ado recente. Foi com muita satisfação que acompanhei um eio por suas dependências e me orgulhando de mostrar a beleza do seu interior escondida do público pelas paredes externas.“
José Tadeu Tesseroli de Siqueira, Cirurgião dentista, Doutor em Ciências e colaborador do Museu Odontológico dos Campos Gerais Dr. Júlio Federmann:
“Impressionou-me a visão dos longos corredores, das imensas janelas envidraçadas e dos jardins – imagino neles visitantes ou enfermeiras de braços dados com pacientes convalescentes… Em homenagem aos que se dedicaram a ele, ou que nele foram tratados, e para resgate da história dessas pessoas, merece ser preservado como espaço cultural memorial da saúde.“
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Nota: os muros que cercavam a frente da edificação foram retirados quando o hospital fechou e com isso perdemos o portão e os gradis com motivos paranistas que foram encomendados ao artista João Turin. O portão foi salvo, na época, por Aristides Spósito e se encontra na edificação do antigo Museu Época.
*O autor é engenheiro e mestre em Planejamento e Projeto Urbano, e escreve na coluna Sherlock Holmes Cultura do Diário dos Campos.
O propósito do Grupo Sherlock Holmes é de resgatar objetos, bens, curiosidades, histórias e até mesmo coisas desconhecidas da maioria da ponta-grossenses, e que remetem a todo imaginário que constrói a memória de um povo, tanto histórica quanto afetiva.
As fotos são do acervo fotográfico do autor.