O segundo monge, chamado São João Maria ou João Maria de Jesus, sobreviveu ao primeiro (João Maria Agostini). Morreu ou desapareceu por volta de 1908, quando começava a questão do Contestado. Seu nome civil era Anastás Marcaf.
Frei Rogério Neuhaus, que viveu em Curitibanos (SC), afirma que conversou com o homem de cinquenta a sessenta anos, de estatura média, vestido pobre mas decentemente, em dezembro de 1897. Então, perguntou-lhe de onde tirava as palavras que dirigia ao povo e quem lhe dera autorização para fazer isso. O cenobita respondeu-lhe que as tirava das Sagradas Escrituras, acrescentando: “eu nasci no mar; criei-me em Buenos Aires e faz 11 anos que tive um sonho, percebendo nele claramente que devia caminhar pelo mundo durante 14 anos, sem comer carne nas quartas-feiras, sextas-feiras e sábados, e sem pousar na casa de ninguém. Vi-o claramente”.
O coronel-médico Ângelo Dourado, do estado-maior federalista na guerra civil de 1894-95, também conversou com ele: tratava-se de pessoa que caminhava solitária pelos sertões, nada tendo de si e nada pedindo a ninguém; não dormia dentro das casas e só aceitava alimentos frugais em pequena quantidade. Suas pregações calmas e humildes eram ouvidas por todos, que o respeitavam e estimavam. Nunca dizia para onde ia, nem quando.
Atravessava rios transbordando, sem canoas, e ninguém sabia dizer como havia ado. Levava uma bandeira branca com uma pomba vermelha no centro. E José Cleto da Silva, político e escritor, encontrou-o no ano de 1896: “ele aconselha os sertanejos; não gosta de ser acompanhado por grupos; carrega a tiracolo um saco de algodão e, dentro dele, uma barraca pequena e uma inha; traz consigo um crucifixo e outras pequenas imagens. Pousa à beira de caminhos e não aceita dinheiro: contenta-se quando lhe oferecem alguma verdura, um pedaço de queijo ou um pouco de leite; aconselha a que o povo tenha bastante crença em Deus e trabalhe muito para se desviar das más intenções”.
Antônio Lustosa de Oliveira, deputado guarapuavano, conta que João Maria acampava nas proximidades da Fazenda São Pedro, de sua família, e que, numa de suas últimas aparições, sua mãe Rosa, notando que o poncho do peregrino estava velho, com rasgões, propôs-lhe trocá-lo por um novo, ficando com o antigo. Por 80 anos a família conservou a velha roupa, não obstante pessoas levarem retalhos como lembrança do “santo”.
A fotografia que ainda pode ser vista e que mostra o eremita de sandálias de couro cru, gorro de pele, em pé ao lado da capelinha, foi tirada em Ponta Grossa, no final do século 19, pelo comerciante Herculano Fonseca.
O autor é um dos fundadores da Academia de Letras dos Campos Gerais, advogado, e foi juiz, vereador e prefeito da cidade de Prudentópolis, de onde é natural. Entusiasta da História, é autor de diversos livros, incluindo “Das Colinas do Pitangui…” e “Corina Portugal: História de Sangue e Luz”.