Os desbravadores de Ponta Grossa e das demais localidades dos Campos Gerais, não ficavam de braços cruzados durante os temporais. Quando vinham os aguaceiros, a maioria era obrigada a permanecer dentro das casas e galpões, trançando laços de quatro tentos e fazendo outros trabalhos manuais que, em tempo bom, ficavam relegados. As sogas e rédeas tecidas com crinas dos animais, os sovéus para empreitadas mais pesadas, tudo isso era feito caprichosamente nesses dias. Da árvore conhecida como soita-cavalo, tirava-se madeira leve e forte para se esculpir as cangas dos carros de boi e as cangalhas dos cargueiros, que eram os veículosligeiros e operacionais não apenas dos homens do campo como também dos tropeiros.
Trabalhava-se, igualmente, com a taquara que, predecessora do “Bombril”, tinha mil e uma utilidades: ora, eram feitos cestos cuneiformes ou arredondados para o depósito de cereais, de erva-mate, da cal virgem; ora, utilizavam-se suas lascas para confeccionar balaios e peneiras.
Campos Gerais
Nas fazendas de maior porte, era obrigatório que se mantivesse um seleiro que soubesse lidar com couro cru e com outras variedades, mas que dominasse a arte com sensibilidade de artista, fazendo rédeas estreitas e fortes, com lavores diversos e botões de couro de tipos e tamanhos diferentes. Os lombilhos, arreios e selas para damas também ficavam sob a alçada desse profissional que se esmerava nas costuras e nos atavios. Outros ainda, com uma roca precária, teciam a lã das ovelhas fabricando mantas e baixeiros.
Sem possibilidade de se informar no boletim do tempo em rádios ou televisões, o centauro dos campos adquiria conhecimentos meteorológicos através de ensinamentos práticos que avam de geração a geração, muitos deles hauridos dos próprios indígenas. Portanto, era preciso estar a par das movimentações da lua, dos ventos, do sol porque, da chuva e da influência dos astros, dependiam as atividades básicas e a própria sobrevivência de tais homens: a queima dos campos, das áreas para lavoura, os rodeios do gado, as viagens da tropeiragem, tudo isso ficava na dependência do tempo. Daí porque os mais seguros indicativos de que chuvas cairiam dentro de um dia e uma noite eram o vislumbre do círculo pálido ao redor da lua ou o chilrear assanhado das saracuras. Mas o medonho roncar dos bugios, o sal que derretia nos cochos, as rãs que aumentavam o ritmo e os decibéis do matraquear, também forneciam indícios seguros de tempestade.
Recolhidos às suas casas, no calor do fogo que crepitava debaixo das trempes, esses pioneiros não paravam. Trabalhavam naquelas coisas que, com o tempo bom, ficavam para trás.
O autor é um dos fundadores da Academia de Letras dos Campos Gerais, advogado, e foi juiz, vereador e prefeito da cidade de Prudentópolis, de onde é natural. Entusiasta da História, é autor de diversos livros, incluindo “Das Colinas do Pitangui…” e “Corina Portugal: História de Sangue e Luz”.