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Pouco antes da Revolução Getulista

Bernardo Sávio, italiano de Padova, brasileiro naturalizado, foi o vereador escolhido pelo Presidente do Estado, Affonso Alves de Camargo, para exercer as funções de Prefeito Substituto de Ponta Grossa, em virtude da renúncia do titular Eliseu de Campos Mello. Tal, aconteceu na segunda quinzena de maio de 1930.

Sávio, em seu curto mandato, tentou colocar a casa em ordem, partindo dele a determinação de auditoria nas contas do prefeito renunciante, depois aprovadas. Tomou, ainda, outras decisões corajosas, de grande apelo popular, sendo certo que uma delas, em especial, motivou a sua queda do cargo: através de decreto firmado em 17/9/1930, declarou a caducidade do contrato entre o Município e Pedro Alípio Alves de Camargo, filho de Affonso, para a construção e exploração do Matadouro Modelo, o que, por óbvio, valeu-lhe imediata repulsa por parte do mandatário do Paraná.

De cambulhada, ainda fez aprovar a Lei nº 657 (de 21/5/30) que, numa só tacada, revogou quatro leis anteriores sancionadas por Campos Mello e que tratavam de temas extremamente polêmicos que vinham sendo objetos de críticas pela população. O primeiro ato revogado, autorizava a realização de vultoso empréstimo no montante de dois mil contos de réis que ultraava os orçamentos municipais de 1929 e 1930; o segundo, permitia a emissão de títulos da dívida pública até trezentos contos de réis; o terceiro e o quarto tratavam, respectivamente, da renovação dos contratos com a Cia. Telefônica e com a Cia. Prada de Eletricidade.

Bernardo Sávio levou a cabo uma verdadeira cirurgia nas controvertidas iniciativas de seu antecessor, não sem antes pagar cerca de 249:500$000 de contas deixadas pendentes. Mesmo sendo alvo de manifestação popular em regozijo à invalidação do contrato feito para a construção do Matadouro Modelo, o arrojado , demitido, obrigou-se a voltar à planície para retomar o cargo de vereador e dar lugar ao colega Lysandro Araújo que, fiel correligionário de Affonso Camargo, não titubeou em anular o decreto que feria os interesses de Pedro Alípio. Isso, frise-se, em completa discordância com o vozear que vinha das ruas e com a posição do Centro de Comércio e Indústria de Ponta Grossa que, por seu presidente, discordava do malsinado contrato, afirmando que ele “veio esmagar a livre concorrência” mediante um monopólio odioso que atingia a todos, mormente os mais pobres, com a elevação do preço da carne.

Em meio a toda essa agitação, aproximava-se a eclosão do movimento rebelde de 03/10/1930, cujo objetivo era a derrubada das oligarquias da República Velha e a regeneração dos costumes políticos.

Destituído do cargo de prefeito interino, Bernardo Sávio entregou o poder a Lysandro Araújo. Afora débitos de elevada monta da parte do município ocorridos na gestão de Elyseu de Mello, a insatisfação popular crescia porque o novo prefeito, mais atento a satisfazer compromissos partidários, relegou a segundo plano os interesses da coletividade mediante decisões desastrosas, como a de aceitar, na cidade, a presença de uma Companhia da Polícia Militar comandada pelo célebre coronel Sarmento, famoso na guerra do Contestado. E tudo, com o objetivo de proteger os interesses de Pedro Alípio Camargo, filho do governador, no tal Matadouro Modelo.

No entanto, não deu tempo para que Lysandro esquentasse o lugar de prefeito porque os gaúchos, com metralhadoras e canhões ao invés de lanças, já se encontravam em vias de deflagrar mais uma revolução, cujo importante ponto de parada seria Ponta Grossa.

No dia 03/10/1930 começou o movimento rebelde, com Getúlio conclamando o país a mudar a situação reinante pela força das armas.

Enquanto isso, os mandões da política local colocavam as barbas de molho. Lysandro, experiente político, desacelerou a sua atuação como prefeito, ocorrendo, daí, uma espécie de vacância do cargo porque a Câmara Municipal é que ou a governar através de “Resoluções”.

No mesmo dia em que estourou a revolução, cinco vereadores compareceram à sessão da Câmara, dentre eles Bernardo Sávio, Adalberto Araújo, Rodolfo Osternack. Assuntos foram discutidos e votados, mas os camaristas, numa atitude de súbito descuido, deixaram de a competente ata.

Pouco à frente, com Affonso Camargo já deposto, a Câmara encheu-se de indignação e, sob a presidência de Alfredo Vilela, baixou a última de suas decisões frente ao pesado silêncio imposto pela ditadura getulista: emitiram a Lei nº 658 que aprovava o decreto anterior de Sávio, o qual já havia sido considerado nulo por Lysandro e que tratava da extinção do contrato entre o Município e Pedro Alípio. Como prudência e caldo de galinha nunca fizeram mal a ninguém, os nobres edis houveram por bem em ressuscitar o ato de Sávio, livres, agora, da ira dos Camargos.

Como fecho, acrescente-se que Bernardo Sávio, adepto da revolução varguista, teve a infelicidade de ver morrer seu jovem filho Jacy, num ataque  ao quartel da polícia em Irati. Isso, porém, não arrefeceu os ânimos de sua família que, trinta anos depois, quando do movimento militar de 1964, participou ativamente da campanha cívica que angariava donativos para o resgate da dívida externa do país.

O autor é um dos fundadores da Academia de Letras dos Campos Gerais, advogado, e foi juiz, vereador e prefeito da cidade de Prudentópolis, de onde é natural. Entusiasta da História, é autor de diversos livros, incluindo “Das Colinas do Pitangui…” e “Corina Portugal: História de Sangue e Luz”.

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