João de Menezes Dória: O parlamento sempre foi a arena apropriada para a discussão de assuntos de interesse geral, nele despontando os oradores com melhor retórica e com pontos de vista respaldados pela vontade popular. De nada adianta, por óbvio, a eloquência e a cultura do parlamentar se, a par disso, não há uma mensagem de caráter positivo, fundamente ancorada nos supremos anseios da coletividade. Defender medidas ditadas pela voracidade tributária de governos ou provindas do raciocínio frio e insensível de tecnocratas, não dá ao orador a matéria prima necessária para brilhar na tribuna e para crescer em prestígio.
Ponta Grossa, num ado remoto, foi celeiro de incandescentes tribunos políticos que, nos anais das casas legislativas, deixaram pronunciamentos até hoje lembrados.
João de Menezes Dória
João de Menezes Dória, médico, deputado provincial, presidente revolucionário do Estado, deputado estadual e federal, foi um desses homens públicos que, quando pedia a palavra, fazia tremer os adversários. Nascido politicamente nesta cidade, onde residiu e clinicou por muitos anos, exerceu o mandato parlamentar tanto na fase imperial, quanto na fase republicana. Por ocasião da primeira Constituinte Estadual dentro do novo sistema, ocupou o cargo de presidente da Assembleia Legislativa, mas foi apeado do poder e preso numa fortaleza do Rio de Janeiro, de onde conseguiu escapar mediante lances rocambolescos.
Uma segunda vez ainda foi preso e remetido à então capital da República, para novamente fugir da prisão e, no início de 1894, retornar a Curitiba à frente de um batalhão de rebeldes, como coronel federalista. Em seguida, João de Menezes Dória foi elevado à chefia do governo do Estado, ocupando a vaga deixada por seu arquirrival Vicente Machado que abandonara o cargo e se refugiara em São Paulo. Meses depois, derrotados os insurgentes, Dória e outros líderes revolucionários asilaram-se em Buenos Aires, somente retornando quando Prudente de Morais decretou uma anistia ampla para os envolvidos dos dois lados, na guerra fratricida que ceifou a vida de mais de dez mil homens.
De volta ao Paraná, o irrequieto homem público continuou a exercer a medicina e a escrever nos jornais “A Federação” e “Diário do Paraná”, além de fazer cerrada oposição ao grupo oligárquico vicentista, como deputado e jornalista.
Sua presença na imprensa e na tribuna parlamentar incomodava os adversários. Mercê de seu verbo incendiário e das denúncias que fazia sobre falcatruas, foi vítima de tentativa de homicídio por parte de sicários. Restabelecido, retornou à arena política para continuar a sua luta de oponente corajoso e combativo.
O autor é um dos fundadores da Academia de Letras dos Campos Gerais, advogado, e foi juiz, vereador e prefeito da cidade de Prudentópolis, de onde é natural. Entusiasta da História, é autor de diversos livros, incluindo “Das Colinas do Pitangui…” e “Corina Portugal: História de Sangue e Luz”.