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O Amor que abraça: desvendando a essência de cada ser no espectro

Foto ilustrativa gerada por IA

É surpreendente como nossos corações se expandem quando nos entregamos a ajudar alguém a florescer em sua plenitude. Penso no TDAH, por exemplo; ele é muito mais que um simples rótulo. Dentro de cada criança, pulsa uma vida vibrante, pronta para abraçar desafios e se reinventar a cada novo dia. E, embora seja fundamental reconhecer e acolher as particularidades, como de crianças com Transtornos do Espectro Autista (TEA), que podem surgir, é vital não deixarmos que elas aprisionem a alma de quem a criança realmente é.

Além do diagnóstico

Ver além do diagnóstico é acolher a complexa dança do desenvolvimento humano sem reduzi-lo a um mero inventário de características. No contexto do TEA, isso significa sentir que cada criança autista tece sua interação com o mundo de um jeito só seu. Ela guarda as suas alegrias, seus refúgios, seus talentos escondidos e seus desafios visíveis, que ecoam muito além de qualquer laudo médico.
Como pedagoga, convido pais e profissionais a contemplarem as “pequenas epifanias” e o doce progresso diário da criança, em vez de se perderem nas aparentes limitações. Acredito com toda a minha alma na importância de enxergar cada criança como um universo em si, com suas belezas únicas, suas necessidades mais profundas e suas infinitas potencialidades.

Função da fámilia

O convite reside em sentir como ela responde e se transforma diante das diversas situações e intervenções, desvendando o que realmente nutre sua alma. Por exemplo, uma criança que encontra sua voz através de gestos ou de um dispositivo de comunicação assistiva está revelando uma forma sublime de expressão que merece ser poeticamente celebrada! Ou, se uma criança ainda se desorganiza em ambientes barulhentos, ela clama por um acolhimento especial e por um carinho que a ajude a encontrar harmonia nesses sons. Apenas saber que a criança é autista não nos oferece essa visão tão terna. O que a favorece é a nossa observação sensível ao jeito único de cada ser e o reconhecimento de suas singelas, mas grandiosas, conquistas! Quando a família desperta, é como um abraço de compreensão e pertencimento.

Reconhecimento

Além do eco do diagnóstico na criança, há outra canção que pode ressoar na família: quando os pais se reconhecem no espectro autista após a descoberta dos filhos. Esse fenômeno, mais comum do que se imagina, ao invés de ser visto como um obstáculo, deve ser abraçado como uma porta para o autoconhecimento e a autodescoberta. Mais do que rótulos, o que nos define são os os que damos, as escolhas que desenhamos e a melodia da nossa interação com o mundo.

Acredito que para muitos pais, essa revelação pode ser um alívio que liberta. Ela acende uma nova luz sobre desafios pessoais que ecoavam por muito tempo e pode aprofundar a empatia e o carinho pelas vivências de seus filhos. No entanto, é essencial que esse processo não se torne uma jornada de autocrítica ou autojulgamento. Pelo contrário, deve ser uma exploração amorosa das próprias nuances e uma chance de desenvolver estratégias que beneficiem tanto a si mesmos quanto aos seus filhos, em um balé de apoio mútuo.

Em ambos os caminhos, o foco deve permanecer na construção de um lar tecido com entendimento mútuo e e incondicional, onde todos os membros da família possam florescer em sua plenitude. Afinal, mais do que qualquer diagnóstico, são os laços esculpidos no respeito e na aceitação que moldam o coração da nossa identidade e a beleza da nossa humanidade. Como nos ensinou Lacan, “o sujeito é o que representa um significante para outro significante”; somos essa trama viva de significados, e não apenas um nome ou um rótulo que nos aprisiona.

Assim, pais, responsáveis, professoras, ao navegarmos pelas delicadezas do TEA, que o façamos com um coração aberto e uma mente disposta a ser tocada e a aprender com cada experiência. Ao tecer essa trama, não só amparamos as crianças no espectro de forma mais profunda, mas também nos transformamos, expandindo nossa própria compreensão sobre o que significa ser verdadeiramente humano. Lembrando sempre que, um diagnóstico pode guiar, mas jamais define quem somos!

Eliane Prado*, autora do arigo, é escritora e pedagoga.

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